Degelo do Ártico abre a região para a navegação de cruzeiro de luxo

A rota do Crystal Serenity: de Anchorage, no Alaska, a Nova York, passando pela Groenlândia
A rota do Crystal Serenity: de Anchorage, no Alaska, a Nova York, passando pela Groenlândia

O aquecimento global e o consequente degelo do Ártico está, definitivamente, criando novas e inusitadas realidades.

Em agosto deste ano, durante o verão do hemisfério norte, a companhia de navegação Crystal Cruises irá realizar o primeiro cruzeiro no Ártico, partindo de Anchorage, no Alaska, com destino a Nova York, através da Passagem Noroeste, que liga os oceanos Pacífico e Atlântico.

Serão 32 dias de navegação por uma das mais inóspitas e instáveis regiões do planeta, a bordo do Crystal Serenity, um luxuoso navio de cruzeiro que não é propriamente um navio polar. Uma situação que está, desde já, deixando as autoridades costeiras do Canadá e dos Estados Unidos de cabelos em pé.

Foi a partir de 2007 que o degelo do Ártico abriu a Passagem Noroeste para a navegação. Os cientistas afirmam que, no ritmo atual de aquecimento do planeta, dentro de 25 anos o Oceano Ártico estará totalmente livre de gelo durante o verão.

Desde então os isolados vilarejos inuits da região tem assistido a um constante aumento da navegação pela Passagem, mas sempre navios de pequena capacidade ou quebra-gelos. Nada que se compare ao Crystal Serenity, com seus 1.700 passageiros e tripulantes a bordo.

Por esta razão, a partir de 13 de abril próximo as guardas-costeiras americana e canadense farão um treinamento conjunto para o pior dos cenários: o resgate de centenas de pessoas em águas mortalmente geladas, sob clima hostil, e a uma distância de até mil milhas da base mais próxima.

É certo que o cruzeiro do Crystal Serenity está se revestindo de todas as precauções possíveis. O navio será escoltado por um quebra-gelo, que levará um helicóptero a bordo para averiguação das condições da rota; as tripulações na ponte de comando são especializadas e em duplicata; o navio terá radares especiais para detecção de gelo; a comunicação do navio será permanente. Mas, mesmo assim, o caprichoso clima das alta latitudes, a imprecisão das cartas náuticas da região e a inexistência de qualquer infra-estrutura próxima são preocupantes.

E, claro, existem também as questões ambientais, que incluem aspectos como a pegada de carbono do navio, a interação dos passageiros com a vida selvagem e a destinação dos resíduos de 1700 pessoas durante 32 dias a bordo.

O único aspecto tranquilizador é que, diferentemente da Antártica, o cruzeiro irá atravessar águas territoriais de dois países, Canadá e Estados Unidos, que contam com guardas costeiras e tem estrutura de resgate.

A Antártica, território internacional, não está sob jurisdição de nenhum país e, em caso de acidente, o único socorro possível vem das bases científicas instaladas no continente gelado, para desespero dos pesquisadores locais, que não estão obviamente aparelhados para este fim.

Em tempo: para os que quiserem se aventurar, as tarifas de US$ 22 mil a US$120 mil por passageiro, dependendo do tipo de cabine escolhido. Exije-se um seguro de resgate com cobertura de US$50 mil por passageiro.

Navio da família Crystal em navegação na Antártica