Efeitos da pandemia nos oceanos: uma boa e uma má notícia

lixo-mascaraAfinal, qual é o efeito do confinamento dos humanos sobre o meio ambiente e, em particular, nos oceanos? Primeiro, as boas notícias.

A súbita retirada de circulação de alguns milhões de humanos e a dimunição do ritmo das atividades econômicas provocou impactos já perceptíveis no meio ambiente em geral. Com menor produção de CO2 e NO2 (o dióxido de nitrogênio composto químico responsável pela acidez na chuva), a atmosfera das grandes cidades está mais limpa. Mas não é só isto.

No caso dos oceanos, com a presença reduzida dos humanos as águas estão mais limpas e parece haver uma oportunidade para que a vida marinha se regenere. Sem os humanos presentes, a vida selvagem recuperou antigas áreas que costumava frequentar. Pukhet, a mais frequentada ilha da Tailândia, registrou o aparecimento de ninhos de ovos de tartaruga que não ocorriam há 20 anos, fenômeno que se repetiu em várias partes do mundo; os canais de Veneza ficaram mais limpos e foi possivel o avistamento de espécies tidas como desaparecidas; golfinhos passaram a frequentar portos da Sardenha, no Medirterrâneo.

A redução do tráfego de navios de carga e de cruzeiro provocou uma sensível redução da poluição sonora nos oceanos, que está permitindo aos pesquisadores avaliar melhor seu impacto sobre os cetáceos e outros mamíferos marinhos. Apesar dos pesquisadores também não terem conseguido embarcar nos navios oceanográficos, o estudo está sendo feito a partir de uma rede de microfones subaquáticos existente. E as baleias parecem estar se beneficiando dessa calmaria, com menos colisões com navios de carga. Rotas sensíveis estre a costa leste dos Estados Unidos e a China apresentam diminuição de incidentes com os grandes mamíferos marinhos.

Mas nem tudo é boa notícia. A covid-19 reverteu a curva de queda de pásticos descartáveis, amplamente procurados durante a pandemia. E acrescentou alguns bilhões de máscaras e luvas descartáveis, que correm o risco de serem acrescidas aos milhões de ton anuais de plásticos que já despejamos nos oceanos.

Apenas para exemplifcar a magnitude do problema, em recente reportagem sobre o assunto o jornal britânico The Guardian, informou que apenas a frança encomendou 2 bilhões de máscaras durante a pandemia. “Com sua vida estimada em 450 anos, estas máscaras são uma verdadeira bomba ecológica”, afirmou como afirmou Éric Pauget, um político da região de Cote D´Azur em carta ao presidente Emanuel Macron, pedindo providências para o assunto

Máscaras e luvas já estão sendo avistadas em praias desertas e locais isolados como as Ilhas Soko, próximas a Hong Kong. Gary Stokes, da ong conservacionista Oceans Asia, recolheu 70 máscaras na ilha. Segundo ele, a probabilidade das máscaras serem confundidas com águas vivas e comida é grande. “Fazemos constantemente necropsia nos golfinhos e estamos preparados para a surpresa que virá mais cedo ou mais tarde”, afirmou.