Moedas encontradas no litoral da Florida: um pequeno tesouro de US$1 milhão.
Foi noticiada há poucos dias a descoberta de cincoenta e uma moedas de ouro e uma corrente de 12 m, também em ouro, na costa da Flórida. Para quem não acompanhou, a notícia diz respeito ao naufrágio da Frota de 1715, como é conhecida uma flotilha de onze naus espanholas que naufragou no dia 30 de julho de 1715 – há 300 exatos anos, portanto – levando ao fundo um tesouro milionário que seguia de Havana para a Espanha.
Os bens, avaliados em US$1 milhão,
foram encontrados por mergulhadores da família Schimitt, contratados pela 1715 Fleet Queens
Jewels, uma empresa norte-americana de caça-tesouros, de propriedade de Brent Brisben, que detém os direitos de
exploração do naufrágio.
As moedas estavam a singelos cinco metros de
profundidade e seriam um indício seguro da localização de um tesouro avaliado
em cerca de US$400 milhões que permanece desaparecido nas cinco das onze naus da frota que ainda não foram localizadas, segundo Brisben (as demais seis estão plenamente identificadas).
O sol desapareceu e o vento aumentou de velocidade vindo
do leste e nordeste. Os mares se agigantaram e o vento continuou
nos empurrando para a costa, em direção às
águas rasas. Tudo aconteceu
tão rapidamente que não fomos capazes de
usar qualquer vela… ficamos
à mercê do ventos
e do mar, sempre nos empurrando
para mais perto da costa. Depois de terem perdido seus
mastros, todos os navios naufragaram
na costa, com exceção do meu, que foi despedaçado.
Miguel de Lima, comandante da nau
Urca de Lima, destruida pelo furacão
A Frota de 1715, liderada pela nau Capitana, era comandada por Juan Esteban
de Ubilla e havia deixado o porto de Havana pouco tempo antes, em meio à
temporada de furacões. Especula-se que ela tenha se exposto a este risco devido
à urgência de caixa da Coroa Espanhola, então em difícil situação. Além de milhares de moedas de ouro e
prata, levava um carregamento de madeira do Brasil, tabaco, chocolate,
especiarias, porcelana chinesa vinda do Oriente e outras tantas mercadorias.
Foi abatida por um furacão nas costas da Flórida, mais precisamente onde é hoje Fort Pierce, uma localidade a pouco mais de 100 milhas ao norte de Miami, na
margem continental do canal das Bahamas.
No naufrágio, morreram cerca de
mil tripulantes, mas outros 1.500 conseguiram chegar com vida à costa do
continente, em botes ou agarrados aos destroços do naufrágio, que se espalharam por quase 30 milhas de costas desabitadas. Mas nem todos eles sobreviveriam. Muitos dos náufragos
morreriam depois de fome, sede ou exposição ao sol.
Botes com o pedido de socorro foram
enviados para Havana, que, um mês depois enviou gente para resgatar os
náufragos e recuperar a carga, operação que levou um ano –
apenas em julho de 1716 os espanhóis deram por encerrada a operação de resgate,
afirmando ter recuperado todo o tesouro real e boa parte do pertencente aos
particulares. Mas o que efetivamente chegou aos portos da Espanha no ano
seguinte foi apenas 50% da carga original. A outra metade permanece desaparecida no fundo no mar e é uma
das fortunas mais cobiçados pelos caçadores de tesouros.
A descoberta já acendeu um sinal
de alerta no governo espanhol. Embalados pelo recente sucesso judicial no caso do
Nossa Senhora das Mercedes, no qual toda
a fortuna resgatada foi reconhecida como propriedade da Espanha e devolvida ao
país, a diplomacia espanhola nos
EUA já começou a se movimentar e acompanhar o caso.
A rigor, a 1715 Fleet Queens Jewels tem o direito de exploração do naufrágio e, por lei, 20% do
que for resgatado cabe ao governo da Flórida. Mas, ao dar a notícia o jornal espanhol
El País, foi direto ao ponto: “O furacão afundou uma frota espanhola, matou mais
de mil marinheiros espanhóis e arruinou comerciantes de Sevilla, Cadiz e
Veracruz. A quem pertence o tesouro? A quem o encontrou e ao governo da
Flórida? E a Espanha?”
A 1715 Fleet Queens Jewels divulgou o vídeo do momento em que as moedas foram encontradas, que desperta mais perguntas do que respostas. O que se vê no material divulgado é um monte de moedinhas reluzentes, espalhadas pelo fundo de areia, a cinco metros de profundidade, esperando para serem filmadas, exatamente no aniversário de 300 anos da tragédia. Nenhuma referência visual, nenhuma preocupação de documentação arqueológica. Assista o filme.
Por isso, a descoberta, espetacular em sí mesma, está sendo recebida com um certo ceticismo. Ainda que a autenticidade das moedas tenha
sido comprovada, nada assegura que a origem delas tenha sido efetivamente a
Frota de 1715 ou que foram descobertas agora.
Segundo especialistas, é comum aparecer caçadores de tesouro dizendo
ter encontrado um galeão, moedas ou indícios de tesouros, como forma de atrair
publicidade e investidores. De concreto, estão aí cincoenta e uma moedas e uma corrente de
ouro. avaliadas em um milhão de
dólares. Resta acompanhar o desenrolar do caso para que venha à tona algo tão
difícil e caro quanto um tesouro – a verdade.