Instalado nos armazéns do porto antigo de São Francisco do Sul, o Museu abriga o maior acervo das culturas litorâneas e ribeirinhas do Brasil |
Fundado há 20 anos, o MNM tem um Conselho Gestor formado por representantes das entidades que tiveram papel relevante na sua criação: Governo Federal, representando pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Governo Estadual, representado pela FCC – Fundação Catarinense de Cultura, Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura e pela SANTUR, Prefeitura Municipal, a sociedade civil representada pela Associação Amigos do Museu Nacional do Mar – AAMNM e por Amyr Klink, seu sócio benemérito.
Este Conselho Gestor é regulado por um Termo de Cooperação Técnica, que atribui responsabilidades a cada parte.
Por uma questão de mérito técnico e científico e de envolvimento com o projeto, houve um protagonismo natural da AAMNM e do IPHAN na formação do acervo e gestão do Museu.
Inicialmente o Estado de Santa Catarina investiu na desapropriação dos galpões e na compra das primeiras peças do acervo; depois disso, por mais de dez anos, a AAMNM – com significativo investimento do IPHAN, recursos de bilheteria e diversas fontes de patrocínio – montou o acervo e deu vida ao Museu.
De quatro anos para cá, contudo, a Fundação Catarinense de Cultura vem realizando uma serie de investidas para implodir a fórmula integradora responsável pela criação e desenvolvimento do museu, visando obter o controle da direção.
Isto, na contramão das mais bem sucedidas experiências de gestão de equipamentos culturais – as organizações sociais (OS) que administram acervos em que o Estado não tem nem expertise e nem agilidade para fazê-lo, mas sempre sob sua rígida supervisão.
O que a Fundação tem buscado é reduzir e subordinar o papel dos demais parceiros na gestão da entidade. A FCC parece querer um Museu para chamar de seu.
Em novembro de 2014 a Fundação Catarinense de Cultura enviou aos demais mantenedores uma notificação de rescisão unilateral do Termo de Cooperação Técnica – como se tivesse poder para tanto e como se pudesse, sozinha, conservar o ritmo de desenvolvimento do museu e manter suas diversas alas – biblioteca, oficina de modelismo, loja, restaurante – e as numerosas ações como as escolinhas de vela e remo, os saraus literários, escola de música, etc.
Para isso, alegou inconstitucionalidade e ilegalidade do Termo, apontou genericamente deficiências da gestão (da qual ela faz parte) e até suspeição sobre as contas da Associação. O Ministério Público Federal em Santa Catarina já se manifestou considerando ilegítima a pretensão.
Enquanto a crise avança, a gestão paralisa e tanto o edifício quanto o acervo do Museu ficam em estado de abandono e deterioração.
É mais do que urgente um plano de recuperação do MNM, com novo restauro do edifício, desenvolvimento de um projeto museológico compatível com a importância do seu acervo e a introdução de melhorias há muito projetadas e prometidas, como a implantação de uma marina onde os barcos pudessem ser vistos na água.
E esta não é mais uma questão local. Dada a importância do seu acervo, é uma questão que diz respeito à preservação da memória nacional das culturas litorâneas e ribeirinhas do Brasil.
Está mais do que na hora do governo do Estado de Santa Catarina perceber que o caminho da administração pública excludente, alijando a sociedade civil e parceiros insubstituíveis que criaram o Museu, não é garantia de qualidade de gestão. Ao contrário.
Infelizmente, exemplos a respeito não faltam pelo país.
Idealizado pelo arquiteto Dalmo Vieira Filho, ex-diretor regional do IPHAN, atual Secretário de Desenvolvimento Urbano de Florianópolis e um dos maiores especialistas em Patrimônio Naval Brasileiro, o MNM desde o início contou com a adesão apaixonada de personalidades como Amyr Klink, reconhecido como sócio benemérito, e outras menos conhecidas mas não menos importantes como os pesquisadores e modelistas Conny Baumgart, Luiz Lauro Pereira Jr. e Carlos Heitor Chaves, que se organizaram na AAMNM.
O Museu possui também uma biblioteca com mais de 2 mil volumes, incluindo obras raras, acervo de fotografias, desenhos, cartas náuticas e outros documentos e abriga um formidável conjunto de maquetes de embarcações brasileiras conhecido como Coleção Alves Câmara – Século XXI.
Todo este acervo está instalado em uma área de 9 mil m2 dos armazéns da Cia. Hoepecke, no porto antigo no centro de São Francisco do Sul, ele mesmo um conjunto arquitetônico admirável. Quem não conhece precisa urgentemente conhecer.
A esperança é que, em alguns meses, não se ponha a perder o trabalho de duas décadas….