Ainda não definitivamente finalizado, o documentário de 52
minutos é de longe o melhor e mais atualizado retrato do riquíssimo e pouco
conhecido patrimônio naval brasileiro.
Ao longo dos primeiros quatro séculos da nossa história, o barco foi um elemento fundamental como meio de transporte e subsistência. Eram poucas as estradas que interligavam as cidades do litoral e a pesca artesanal era uma atividade econômica essencial. Havia intensa navegação de cabotagem. O mar era um caminho natural.
Nesse cenário, cada pequeno ambiente geográfico e econômico gerou um tipo diferente de barco, adequado às suas necessidades e adaptado às condições locais de mar e vento.
Em um litoral do tamanho do Brasil, não é difícil imaginar a quantidade de diferentes modelos que surgiram, facilitados tanto pelo conhecimento naval indígena quanto pelos aportes africano e português; estes, protagonistas das Grandes Navegações, haviam entrado em contato com soluções técnicas dos quatro cantos do mundo.
O resultado é um patrimônio naval considerado por especialistas como Dalmo Vieira Filho, fundador do Museu Nacional do Mar e figura central do documentário, como o maior do mundo. E é um acervo de soluções técnicas, criatividade e engenhosidade naval muitas vezes superior à nossa engenharia naval acadêmica, na apaixonada opinião de Amyr Klink, por exemplo.
No Museu São Francisco do Sul estão registradas, na forma de maquetes, mais de 100 diferentes modelos de embarcações marítimas. E está apenas começando a pesquisa das embarcações ribeirinhas e fluviais.
O alvorecer do século XX, contudo, já prenunciava a decadência das embarcações artesanais em madeira. Algumas ainda sobrevivem até hoje a duras penas. Muitas já estão consideradas extintas, fora de uso.
O desenvolvimento do transporte rodoviário, o surgimento de novos materiais como o alumínio e a fibra de vidro, a proibição de extração da madeira em áreas de Mata Atlântica e, principalmente, a decadência da pesca artesanal como atividade econômica rentável pela diminuição dos cardumes, estão fazendo com que carpintaria e carpinteiros navais desapareçam.
É este o cenário que “Feito Torto…” retrata, ao registrar a produção ainda existente de alguns dos grandes carpinteiros navais remanescentes e vários dos últimos exemplares de barcos ainda em navegação. É um apaixonado alerta pela preservação de um acervo de conhecimento popular que não pode ser perdido.
Os interessados em assistir ao documentário devem ainda aguardar cerca sessenta dias para sua finalização e exibição em canal a cabo. Quando isto estiver programado, iremos divulgar. O leitor pode ainda acompanhar e curtir a fanpage do filme no endereço https://www.facebook.com/FeitoTortoPraFicarDireito
Nesta página existe um trechinho que pode ser visto e ouvido – a trilha sonora, especialmente criada para o documentário, é linda. Abaixo, três maquetes do Museu, que demonstram do que se está falando.