A pesquisadora americana Rachel Carson (1907-1964) |
“(…)
peixes, anfíbios, répteis, pássaros com sangue quente, mamíferos, cada um deles
carrega em suas veias um fluido salino que combina o sódio, o potássio e o
cálcio quase na mesma proporção que a água do mar. Esta herança remonta a
milhões de anos, quando nossos ancestrais passaram do estado unicelular ao
pluricelular, elaborando um sistema circulatório, onde o líquido era
constituído pela água do mar.”
Rachel Carson, O Mar
Que Nos Cerca, 1957
Em que momento começou a se formar a consciência ambiental
moderna, a maneira como enxergamos a natureza e nossa relação de
interdependência com ela? Se não existe uma única resposta a uma questão
complexa como esta, certamente a figura de Rachel Carson (1907-1964) desempenha
um papel protagonista sobre como olhamos hoje as questões ambientais e os
nossos desafios para um futuro sustentável.
Carson é uma daquelas raras pessoas que enxergaram o futuro
enquanto todos outros dormiam. Doublé de bióloga-marinha e escritora, mulher e
cientista num mundo masculino (seus primeiros trabalhos foram assinados como R.L. Carson,
para não revelar sua condição feminina e, consequentemente, atrair descrédito às suas pesquisas), Carson
anteviu, já nos anos 50, as questões cruciais que hoje projetam sombras sobre o
futuro, não do planeta, mas da humanidade.
Ela foi a primeira cientista a constatar que o uso de
pesticidas agrícolas atinge todo o ecossistema (solo, águas, fauna e flora), entra na cadeia alimentar e termina por chegar
às nossas mesas. Seu pioneirismo custou-lhe uma perseguição implacável e uma
campanha difamatória por parte dos fabricantes e usuários de DDT nos EUA, nos
anos 1950 mas rendeu a proibição de seu uso nos EUA em 1972 e em mais de 180 países nas décadas
seguinte (no Brasil, o uso do DDT
foi proibido apenas em 2009).
Nas suas obras, Carson enxergou as alterações climáticas, os
impactos da poluição no meio ambiente, a sobrepesca e a crescente extinção de
espécies. Por isso, sua obra – e
em especial o livro Primavera Silenciosa
(1962) – é considerada fundadora da consciência ambiental moderna.
Escritora apaixonada, dotada de grande sensibilidade e dona
de um estilo que mescla ciência e romance, Carson é um dos grandes nomes da
divulgação científica.
Sua trilogia sobre os oceanos, composta por Sob o
mar-vento (1941), O mar que nos cerca
(1951) e Beira-mar (1955), compõem um dos
mais belos retratos sobre a vida marinha e a natureza dos oceanos, em uma
linguagem apaixonante e absolutamente atual.
É a sugestão de leitura que deixo para este 8 de junho, Dia
Mundial dos Oceanos. Todos são abundantemente encontráveis em edições em papel ou digitais em livrarias como a Cultura, ou nos sebos do site estante virtual – www.estantevirtual.com.br
– onde exemplares são encontrados a partir de modestos R$6,90.
Ouro puro.