Japão desafia a comunidade internacional e anuncia retomada da caça à baleia

Baleeiro japonês com a usual inscrição “RESEARCH”: não há limite para o deboche
Está novamente instalado o conflito entre o Japão e a Comissão Baleeira Internacional (em inglês, IWC) em torno de uma grande farsa: o caráter científico da atividade baleeira japonesa no Oceano Antártico. 


Depois de um duro revés em 2013, quando o programa baleeiro japonês de “pesquisa científica” foi considerado ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça, determinando sua paralisação na temporada de 2014, o Japão acaba de anunciar a decisão unilateral de retomar a carnificina a partir deste ano.

A reação da IWC foi imediata. Para a Comissão, o Japão não provou a alegação de que o abate dos mamíferos é necessário para “calcular níveis sustentáveis de caça e levar a compreender melhor o ecossistema marinho antártico” e anunciou que exigirá do país comprovação do caráter científico dos abates.
Proibida desde 1986, a caça à baleia na Antártica vem sendo praticada exclusivamente pelo Japão, que utiliza uma exceção prevista no acordo de moratória – fins de pesquisa científica ­– para a captura de centenas de baleias com fins comerciais. 
Tóquio anunciou que pretende abater cerca de quatro mil baleias minke nos próximos 12 anos, uma média de 333 animais por ano, número inferior em 2/3 ao que vinha abatendo até 2013 – 900 baleias por ano.
Esta redução, contudo, não é resultado de nenhuma evolução da consciência ambiental das autoridades japoneses, que continuam justificando a caça e o consumo de carne de baleia por serem parte da tradição cultural do país.
Na realidade, o declínio da demanda doméstica, as altas somas de dinheiro que o governo vem gastando para sustentar politicamente uma prática de péssima reputação e o impacto das ações do Sea Shephered na opinião pública mundial estão muito mais na raiz da diminuição anunciada do que propriamente uma mudança de visão.
“Tradição cultural” é o mesmo argumento que  anualmente torra e mói toneladas de cavalos marinhos para abastecer as farmácias chinesas ou decepa a barbatana de milhões de tubarões para serem servidas como sopa (o animal, mutilado e agonizante, é simplesmente descartado no mar). Convenhamos, não há muito do que nos orgulharmos de várias das nossas “tradições culturais”
E, se é uma questão de tradição, por que não podemos fundar agora mesmo uma outra, como sugeriu Brecht? O futuro agradece.