Yo no creo en ondas assassínas, pero que las hay, las hay.

Afinal, qual foi a causa do naufrágio do petroleiro Prestige, que provocou há dez anos o maior desastre ambiental da história da Espanha?

A história começa em 13 de novembro de 2002. Em meio aforte tempestade um dos tanques de 5 mil das 70 mil toneladas de óleo que o navio transportava se rompe. O comandante Apostolos Mangouras emite o primeiro sinal de socorro e pede autorização para se aproximar da costa espanhola onde, acreditava ele, poderia salvar o navio evitar um desastre ambiental.

No dia seguinte, a autoridade naval espanhola nega autorização e ordena que o navio busque o alto mar, o que de fato aconteceu. Gravemente avariado, o Prestige não resiste ao embate com o oceano e finalmente em 19 de novembro se parte ao meio,  a 250 km da costa da Galícia. O óleo derramado atinge mais de 1.600km de costas, do norte de Portugal à França – uma tragédia ambiental que deixou marcas até hoje.

Dez anos e 300 mil páginas de inquérito depois, finalmente teve início em outubro passado o julgamento do caso. São réus o armador, o comandante, seu imediato e o mecânico do Prestige – além do antigo diretor da Marinha Mercante da Espanha.O julgamento envolve nada menos que 3 juízes, 51 advogados, 133 testemunhas e uma centena de especialistas e está previsto para ser concluído em maio.

Contrariando o que o governo espanhol quer fazer crer – que o Prestige não tinha condições de navegação – uma hipótese parece estar se consolidando: o navio foi abatido por uma onda gigante. Este tipo de onda é conhecida por vários nomes: onda assassina, monstro, traiçoeira (em inglês freak wave ou rogue wave) e há muito povoa as estórias e a imaginação dos navegadores. Mas sua existência está cada vez mais comprovada.

Uma rara foto de um rogue wave, feita pelo tripulante Phillipe Lijoiur a bordo do petreoleiro Esso Languedoc, ao Largo de Durban, África do Sul, em 1980. O mastro de boreste esta a 25m acima do nível do mar. Por sorte, a onda entrou pela popa e estourou no convés, causando poucos danos.

Segundo os especialistas, uma rogue wave pode atingir até 30 metros de altura e se forma por conjugações especialíssimas de correntes e tempestades.  Não tem nada a ver com os tsunamis, grandes deslocamentos de água provocados por terremotos e devastadores apenas quando atingem a costa. As ondas gigantes seriam fenômenos típicos de alto mar, isolados e localizados, de curta duração, mas não menos destruidores para quem tiver a infelicidade de cruzar com elas.

O primeiro registro científico deste tipo de onda foi obtido na plataforma petrolífera Draupner, no Mar do Norte, em 1995. Os sensores laser da plataforma registraram um vagalhão com nada menos que 26 metros de altura.Desde então a ESA, a agência espacial européia, tem se dedicado à pesquisa doassunto e conseguiu uma das raras imagens existentes do fenômeno.

A onda que teria atingido o Prestige teria 12 a 16 metros de altura, segundo cálculos de dois dos maiores especialistas no assunto, o americano Alfred Osborne e o britânico Nigel Barltrop, ouvidos pelo Tribunal da Galícia, que está no curioso papel de julgar se este tipo de onda existe ou não.

A boa notícia: este tipo de vagalhão seria extremamente raro.